Defesa: treinamento técnico e tático no Voleibol

Fundamentos do vôlei: da teoria à prática


A defesa no voleibol teve uma grande evolução, onde muito se discute que houve uma queda acentuada na qualidade do gesto técnico. As primeiras defesas no voleibol eram feitas apenas de toque por cima, ou mesmo com as mãos espalmadas, porém com o aumento da força de ataques, foi necessário uma postura diferente e mais apropriada. Com a mudança das regras o voleibol moderno passou a se permitir a utilização de todo o corpo par a execução de uma defesa, inclusive os dois toques simultâneos. Para um jogador possuir uma boa qualidade de defesa, é sua característica ligada ao caráter, isto é um defensor deve querer defender antes mesmo de ser um exímio executante da técnica de defesa. Um bom defensor deve ser combativo, tenaz, determinado e sobretudo “querer defender.” No voleibol moderno as adaptações de posicionamentos para se defender uma bola atacada pelo adversário, faz com que a atleta possua uma boa coordenação de movimentos e uma boa interpretação da ação da atleta adversária. Existiu nos últimos anos uma evolução muito grande no que diz respeito a analise do jogo. A introdução em 1984, pelos Estados Unidos, da estatística no voleibol feita através de analises computadorizadas, colaboraram para uma ainda maior adaptação da defesa e sua evolução.


Treinamento da técnica

O treinamento da técnica de defesa exige da atleta uma atenção especial em não se limitar a defender somente em uma determinada zona do campo. A técnica de defesa é diferenciada de acordo com o posicionamento que a atleta se encontra durante o jogo. Uma técnica de defesa para a atleta que esta posicionada, a zona 1 (defesa direita) pode ser com a perna direita ligeiramente à frente, para ataques vindos da zona 4 (ataque esquerdo) do adversário. Outra possibilidade é a atleta posicionar-se, para a mesma situação de ataque, com a perna esquerda ligeiramente à frente. Estas situações ocorrerão durante uma partida, porém acredita-se que uma atleta deve dominar as duas situações. As intervenções de defesa durante uma partida são basicamente de: bolas fortes diretamente no corpo do defensor, bolas fortes atacadas na região próxima ao defensor e bolas lentas que podem ser recuperadas com corrida, rolamentos ou outros recursos. Para cada situação acima citada, temos diferentes tipos de intervenções que estarão relacionados com a distância que se encontra o defensor do ponto em que deve ser dirigida a defesa. Sobre uma bola atacada diretamente no corpo da defensora, pretende-se apenas coloca-la alta no meio do campo para que a levantadora possa executar um levantamento. Não que com este conceito não se procure executar uma defesa altamente precisa, o que se enfatiza é que esta é uma defesa de alto grau de dificuldade e por conseguinte, procura-se uma maior margem de segurança ao executar o gesto. Para bolas fortes atacadas na região próxima do defensor, exige-se uma postura de expectativa baixa de modo que se possa partir para qualquer direção e executar a defesa. Nesta situação é que a atleta executa afundos laterais, frontais, defesa alta, rolamentos e também defesas com apenas um dos braços. Para bolas lentas, que mudam de trajetória por terem sido tocadas pelo bloqueio, na rede ou mesmo bolas largadas pelos atacantes, a atleta executará corridas de aproximação o mais veloz possível, também quedas com ou sem rolamentos. A cada diferente etapa de treinamento, Proença,1998, propõe a utilização de metodologias, que foram seguidas neste estudo. Numa primeira fase de treinamento utilizou-se a Prática Distribuída, para a fixação do gesto básico, que com o tempo foi adaptado a cada situação futura nos treinamentos e jogos. 

 

No treinamento da técnica de defesa, utilizou-se o método da Prática Maciça, onde a quantidade de repouso é menor que a da atividade, como por exemplo, um minuto de pratica de defesa e 10 segundos de descanso. Também utilizamos a Prática Concentrada, onde a atleta executa varias tentativas relativas ao mesmo fundamento, para depois executar outro. A repetição no treinamento técnico da defesa é de fundamental importância pelas variedades de estímulos que são proporcionados. A força diferenciada no momento do impacto com a bola imposta pelo técnico, a alternância de movimentos de ataques feita pelas demais atletas, habilitam a defensora a adaptar-se as diferentes situações de jogo. Em uma próxima etapa, utiliza-se também a Prática Variada, proporcionando a atleta, em um mesmo exercício executar a defesa de diferentes zonas da quadra. Os exercícios devem proporcionar a atleta uma variação grande de estímulos, sendo que o objetivo seja sempre o direcionamento da bola para a zona em que a levantadora poderá utilizar todas as opções de levantamento. Acredita-se que utilização da Prática Concentrada (PROENÇA, 1998), provoca efeitos passageiros, não são retidos na memória do executante por muito tempo. Portanto a utilização da pratica intercalada é a mais utilizada nos treinamentos modernos, sendo que o desempenho momentâneo possa parecer menos eficiente, porém as investigações tem demonstrado que a pratica intercalada se mostra mais eficiente nodesempenho duradouro.Outro treinamento bastante utilizado foi o treinamento acrobático, que proporciona as atletas maior versatilidade nos movimentos. Rolamentos para ambos os lados, defesas com uma das mãos, direita e esquerda alternadas, defesas altas (bolas acima da cabeça). Utilizou-se como recurso para tais treinamentos, jogos combinados, como por exemplo, tênis, onde cada jogadora se posiciona de um lado da rede, e somente na zona de defesa devem passar a bola para a outra quadra, por sobre a rede , utilizando somente um dos braços. Quanto à definição dos posicionamentos relacionados com as zonas do campo, e a definição de qual perna estará a frente, acreditamos que a lateralidade deve ser fortalecida, ou seja, a atleta deve ser apta a defender em qualquer zona, tanto com a perna direita a frente, como com a perna esquerda. A definição de qual utilizar dependerá da sua adaptação e da eficiência, deixando-se a escolha para a própria atleta. Os treinamentos devem ser executados utilizando as duas situações, e à partir daí definir qual será mais eficiente.

Treinamento tático

Após os anos oitenta, precisamente depois das Olimpíadas de Los Angeles, 1984, o conceito de defesa tática, foi modificado no voleibol. As equipes dos Estados Unidas da América iniciaram a utilizar a estatística como uma arma mais efetiva no voleibol. Isto quer dizer que se passou a estudar mais as característica individual dos atletas através de filmagens em vídeo cassete e à partir destes estudos definir as táticas defensivas a serem utilizadas. Anteriormente a este período, as táticas defensivas eram mais ou menos um padrão para cada determinada situação. Estudos, como as avaliações táticas feitas pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), nas Olimpíadas de 1984, demonstraram que as equipes começaram a apresentar tipos de estruturas defensivas adaptadas para as características de um determinado atacante. As estruturas de defesa eram padrões, tipo a escola Russa que defendia com a jogadora da zona 6 (defesa centro) adiantada, ou seja sempre em baixo do bloqueio. 

As equipes asiáticas, que utilizavam o sistema tático de defesa, com ajogadora da zona 6 sempre deslocando para o lado do levantamento adversário e a jogadora correspondente da zona de defesa, se posicionava atrás do bloqueio. Neste período as equipes brasileiras utilizavam um sistema misto de defesa, onde por vezes era igual aos asiáticos e por vezes deslocava a jogadora da zona 6, para a diagonal maior em relação ao ataque adversário. O treinamento tático do sistema defensivo deve ser organizado de forma que a atleta tenha condições de conhecer o jogo de voleibol, isto é saber interpretar as situações que ocorrem durante uma partida. Para tal desenvolvimento entende-se que as atletas devem vivenciar situações de treinamento o mais próxima possível da realidade do jogo. 

Os exercícios devem criar situações de jogo, como a imprevisibilidade, para que as decisões sejam tomadas de forma rápida e eficaz. O conhecimento tático do jogo pode ser entendido como a interpretação correta da atitude a ser tomada pela equipe adversária, ou pela atleta adversária, e antecipar tal ação posicionando-se de forma que sua ação de defesa seja favorecida. Exercícios de jogos combinados, de uma contra uma em jogo de ataque e defesa, uma contra uma em jogo de recepção e saque, jogo de uma contra uma em ataque e bloqueio, jogo de duas contra duas em ataque, bloqueio e defesa, etc. Estes jogos propiciam as atletas à leitura do gesto da atleta oponente e com isso o desenvolvimento dos recursos de posicionamento e gestos mais apropriados. Utilizou-se muito os jogos de duplas em quadras de areia ou mesmo em quadra de piso de madeira, para o desenvolvimento do senso de posicionamento das atletas. No desenvolvimento do treinamento tático da defesa de uma equipe, trabalhou-se em um primeiro momento as situações de defesa sem bloqueio e com ataques da zona de defesa adversária. Iniciando desta maneira as jogadoras tem mais tempo de avaliação das ações de ataque, facilitando a leitura e o posicionamento para a defesa. A evolução do treinamento propicia uma velocidade maior nos ataques e uma exigência ainda maior do treinador quanto a precisão da defesa executada. 

O passo seguinte foi a defesa para situações de bloqueio simples, tais situações são desenvolvidas com as atacantes das zonas quatro e dois, podendo executar os ataques tanto na paralela (direção do ataque seguindo a linha lateral correspondente da atacante) ou diagonal (direção do ataca buscando a linha lateral contraria ao à atacante). Neste caso foi feita pela comissão técnica a definição de como se posiciona cada jogadora de defesa, ou seja, se a jogadora da posição seis (defesa centro) deve deslocar-se para a paralela ou para a diagonal. Esta determinação tática é feita pelo treinador, porém a jogadora deve ter a liberdade de analisar a atacante adversária para poder posicionar-se de forma mais adequada no momento do exercício. Após a realização do treinamento com bloqueio simples de ataques das extremidades, introduziu-se também o treinamento de defesa com bloqueio simples pelas bloqueadoras centrais. 

 Da mesma forma, a definição de qual o lado que a jogadora da zona seis deve deslocar-se, será definida pelo treinador e em um segundo momento será sinalizado pela bloqueadora central o lado que ela efetuara o bloqueio. Assim a jogadora da zona seis de defesa saberá qual o lado que ela deve deslocar-se. Esta sinalização foi convencionada pela equipe e utilizada respeitando as características das atacantes adversárias serão enfrentadas no decorrer do campeonato. O passo seguinte foi o treinamento de defesa com bloqueio duplo, o mais utilizado nas partidas de voleibol feminino, e sendo assim o que deve ser mais treinado e sincronizado. Nas situações de defesa com bloqueio duplos, é que são utilizadas as maiores variações táticas no sistema defensivo de uma equipe. 

 As variações de posicionamento das jogadoras de defesa ou mesmo da atleta que sobra do bloqueio devem ser treinadas em todas as suas possibilidades. Tais variações é que irão provavelmente, definir a eficiência do sistema defensivo da equipe. Os posicionamentos devem ser claros para todas as jogadoras e o sincronismo deve ser respeitado. O não sincronismo entre o bloqueio e as jogadoras de defesa, provoca uma desarticulação na equipe e por consequência uma maior fragilidade do sistema. É nesta fase que a atleta deve vivenciar situações com os diferentes tipos de atacantes, como por exemplo: atacante mais alta que a bloqueadora, atacante com mais habilidade em ataques em diagonal, atacante com mais habilidade em ataques na paralela, atacante com característica de largadas, etc. Os treinamentos do sistema táticos de defesa com a utilização de bloqueio triplo, não foram abandonados, foi treinada tanto para bloqueios triplos nas duas extremidades da rede como na zona central da rede. É um sistema que vem com o tempo, sendo mais utilizado no voleibol moderno. Como foi dito anteriormente, o sistema tático defensivo, é hoje muito utilizado de acordo com as características das equipes que serão enfrentadas. As adaptações a cada situação são fundamentais e ao nosso ver estas adaptações podem levar uma equipe a uma maior eficiência em seu sistema defensivo. Um exemplo real destas situações de adaptação, foi a mudança do sistema defensivo da seleção brasileira juvenil, no campeonato mundial de 2001, para anular os ataques de meia força utilizados pela equipe da Coréia na partida final

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